quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A benção!

Entramos na casa. Estávamos de mãos dadas. A moça que nos recebeu, pediu que aguardássemos um pouco na cozinha. Ela entrou em um quarto escuro, fechou a porta, e, aumentando o volume da voz, falou em alto e bom som:
- Vó, tem uma moça e um rapaz aí. A senhora pode atendê-los?

Passados alguns segundos ela retornou até a porta do quarto, abriu-a, olhou para a minha namorada e perguntou:

- Qual é o seu nome mesmo moça?...Eu já esqueci.

- É Fabiula! Respondeu minha namorada.

E entrando novamente no quarto escuro, ela repetiu em voz alta:

- É Fabiula vó! O nome da moça é Fabiula!

Foi então que com o auxílio da neta, vimos chegar até nós à benzedeira.
Ela pareceu muito feliz em nos receber. Ou, quem sabe, em saber que as pessoas ainda acreditam nas suas preleções místicas. Seus olhos estavam fechados, e senti que ela tentou os abrir para nos olhar, mas, esbarrou na cegueira. Manteve-os fechados e nos descreveu em cores. Como se sua visão estivesse intrinsecamente ligada a cheiro ou a energia. Ela falou em cores claras, branco e amarelo.
Fomos atendidos ali mesmo, na cozinha da casa. A benzedeira puxou uma cadeira da mesa, e virou-a para nós. Minha namorada sentou por primeiro na cadeira.

Enquanto as mãos da benzedeira acariciavam os cabelos de minha namorada, sua voz proferia uma oração bem baixinha. Era como se ela estivesse em transe.
Seus olhos, por mais que estivessem fechados, pareciam se movimentar sob as pálpebras - um movimento rápido e descompassado, - e sua voz ganhava dimensões cada vez mais profundas.
Eu, que observava isso de perto, fui tomado por uma energia diferente:
meu coração acelerou e, numa fração de segundos, meus olhos se encheram de lágrimas.
Senti uma vertigem energética, e meu corpo pareceu não agüentar ficar de pé.
Nesta hora, vi a benzedeira posicionar um crucifixo sobre a cabeça de minha namorada.
Ela falou algo como, “Que essa luz te proteja!”, e liberou minha namorada.
E como que pressentindo que eu estava prestes a cair, ofereceu-me a cadeira.

Sentei-me. De repente, o simples ato de sentar em uma cadeira, tomou a fantástica proporção de emergir a cabeça em um arco-íris. Com os olhos fechados, via uma infinidade de cores perambularem pelo escuro de minha mente.
Sentia-me tonto, enjoado, uma vontade estupenda de deitar e dormir.
As mãos da benzedeira deslizavam pelos meus cabelos em movimentos aleatórios.
Era como se ela possuísse dez cobras presas na ponta dos braços, e essas dez cobras tentassem desesperadamente fugir.
De repente ela parou. Disse algo como, “Nossa! Essa luz amarela está muito pesada!”.
Pegou o crucifixo e pressionou sobre minha cabeça. Orou em tom inaudível. Parecia falar numa língua diferente. E foi narrando o desaparecimento da tonalidade da cor:

“- Pronto, pronto, agora ela está indo embora! No seu lugar está entrando um tom mais brando!”

Neste momento, minha cabeça pareceu sentir o tom brando surgir. Foi como se eu conseguisse sentir o peso da cor.
Então, por fim, ela direcionou-me o crucifixo e ofereceu-me uma bondosa benção:

“– Que Deus o acompanhe!”

Após eu levantar, ela ergueu a cabeça e pareceu sair do Transe. Fez perguntas pra sua Neta, que também estava na cozinha, porém, fazendo outras coisas, como se nada daquilo estivesse acontecendo.
Depois de uma rápida conversa, fiquei sabendo que a Benzedeira além de cega era surda, e devia ter em torno de 94 anos. “Fazer o bem rejuvenesce” pensei, por que ela não aparentava ser tão idosa.
Ela nos alertou sobre alguns cuidados que devemos ter um com o outro (eu e minha namorada), além de dar-nos conselhos cuidadosamente construídos a partir da nossa data de nascimento e signo.

Quando estávamos indo embora, minha cabeça ainda parecia girar e eu tive de esperar um pouco sentando no meio fio de uma rua qualquer, mas, com a sensação inexplicável de ter sido purificado totalmente. Foi como se Deus me enviasse um mar de paz e me dissesse: “Vai Ezaqueu, Mergulha que é tua vez! Mergulha que esse mar está reservado a quem vê a vida com outros olhos!”.

Neste dia, a simples lembrança do sorriso mágico da benzedeira era o suficiente para me apaziguar a mente, o suficiente para rejubilizar o meu humor, e eu ainda sentia o peso da cor branda pacificar o meu corpo e voz dela dizendo:

“– Que Deus o acompanhe!”

Um comentário:

http://convivenciaesperada.wordpress.com disse...

legal zaka!
Curti...

:)

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Um Camaleão dentro de um Aquário...Ou, numa linguagem mais Denotativa, alguém que Vive uma flexível versão de Si mesmo. Não morreria por quem sou agora, mas, talvez, por quem poderia vir a ser amanhã... Dentro do Aquário, quer dizer que estou dentro da VIDA....Quer dizer que VIVO! E este Blogue, nasceu com o único propósito de Descarregar algumas das minhas Ilusões, dos pensamentos, dos contos que Pairam pela minha Mente, das coisas que já fiz...Enfinx, é uma mistura de Diário da vida com Um diário de uma imaginação...