quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Romance - Parte 1


Ela me olhou fundo nos olhos e começou a sorrir. Um sorriso de mulher apaixonada.
Disse que me queria, que aquele era o momento certo. Que precisava do meu calor para abrandar-lhe o frio da alma.
Pegou em minha mão, beijou-a. Tocou com leveza o meu semblante. Disse que cuidaria bem de mim. Fez-me promessas de amor eterno.
Fez-me carinho. Abraçou-me com seus braços gélidos e acolhedores. Deu-me amor.
E os minutos que passei ao seu lado foram belos, porém, de uma beleza triste.
Uma beleza vazia. Uma beleza pra lá dos caminhos da vida. Uma beleza de morte.


Meus olhos se voltaram para a luz, e por um momento, pude enxergar com clareza.
Olhei-a na face e, de repente, da meiguice terna de uma mulher só ficara os olhos.
O resto do seu semblante, que antes a penumbra do ambiente não me permitira ver, era recoberto por uma Pele pálida e mal tratada. Como se o inverno habita-se o seu corpo desde o nascimento. Seus lábios eram vermelhos, mas, de um vermelho desbotado e lúgubre. Como se o sorrir estivesse preso dentro deles há séculos.
Neste instante eu me assustei. Senti como se acordasse de um pesadelo, como se despertasse de um encanto. Ela riu do meu susto. Um sorriso alto e desnorteante.

Perguntei: - Morte?

Ela continuou a rir. A gargalhar. Uma insanidade estranha e hipnótica na sua boca. Riu-se por quase um minuto inteiro. Um sorriso de música à beira de um precipício.
De repente ela parou. Olhou-me com profundidade. Uma seriedade odiosa. Seus olhos foram como facas nos meus. Apregoaram-me a visão. Não consegui me mover.

Ela sussurrou: - Cuida-te ou te devoro!

Depois disso ela desapareceu. Sumiu. Tão rápida quanto uma estrela cadente. Tão veloz quanto um grito a velocidade da luz. Não ouvi nada. Não vi nada. Não percebi nada. Ela se esvaiu para a eternidade, arrastando consigo todo o oxigênio do ambiente.
Faltou-me o ar por mais ou menos uma hora. Cada vez que eu respirava tudo o que inalava era o seu veneno e me intoxicava mais e mais. E, Cada vez que tossia eu ouvia sua gargalhada. Como se ela estivesse me observando de algum lugar perto. Uma coruja fria na madrugada da minha vida. Olhos abertos e atentos a cada movimento meu.
Eu senti medo de me render aos seus encantos novamente. Sentia pavor quando lembrava o seu sorriso. Um medo de quem quer viver. De quem ama o amanhecer e o sol. Um medo de quem dará mais valor a vida depois desse primeiro encontro.
(escrito após um incidente perigoso... Pela primeira vez, senti faltar o ar de uma maneira horrorosa!)

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Um Camaleão dentro de um Aquário...Ou, numa linguagem mais Denotativa, alguém que Vive uma flexível versão de Si mesmo. Não morreria por quem sou agora, mas, talvez, por quem poderia vir a ser amanhã... Dentro do Aquário, quer dizer que estou dentro da VIDA....Quer dizer que VIVO! E este Blogue, nasceu com o único propósito de Descarregar algumas das minhas Ilusões, dos pensamentos, dos contos que Pairam pela minha Mente, das coisas que já fiz...Enfinx, é uma mistura de Diário da vida com Um diário de uma imaginação...