sábado, 19 de setembro de 2009

Corrida!


Voltava do centro - Tinha ido pagar uma prestação qualquer - quando o avistei do outro lado da rua. Seus passos eram largos e rápidos e sua vestimenta era a de um atleta: calção esportivo, tênis de futsal e camisa do flamengo (deduzi que se tratava de um atleta pela camisa do flamengo... \o/).
Ele não olhou para mim, mas, pude perceber que entrou no jogo.
O meu oponente era, mais ou menos, 15 centímetros maior que eu – coisa que deixava ele em vantagem, já que sua perna era maior que a minha. E não obstante, ainda usava roupa e tênis adequados para uma corrida.
Eu, no alto dos meus 1, 72 cm de altura, vestia uma calça jeans, uma camiseta do Black Crowes e usava All STAR no pé. Ou seja, teria que ganhar dele na Raça – posto que não estava vestido para uma competição.
A largada foi dada no exato momento em que atravessei a rua. Ele me olhou rápido e disparou na minha frente. Pensei: Putz, vai ser foda vencer esse cara!
Ele permaneceu na minha frente durante uns 10 segundos. E, talvez, por perceber que eu havia notado que ele era maior que eu, acreditou que eu desistiria.
Foi quando liguei o TURBO, e uma injeção de trifosfato de adenosina embalou-me as pernas. Passei-o. Percebi que ele se sentiu ofendido, pois, passados 5 segundos, ele se postou na mesma linha que eu. Caminhamos lado a lado durante, mais ou menos, 30 segundos, quando, por um descuido meu – um tropeção em um maldito pedregulho- deixei meu oponente em vantagem. Ele se afastou por uns 3 metros. Mas, por ocasião do semáforo que avermelhou para os pedestres, consegui alcançá-lo. Nesta altura do campeonato, senti meu corpo suar e minha respiração acelerar. Olhei para o meu adversário e ele parecia tranqüilo, nenhum sinal de excitação. Pensei: essa deve ser a estratégia dele: fingir que está tranqüilo, que não está fazendo esforço para me vencer.
O sinal esverdeou para os pedestres. Larguei em vantagem e apertei o passo para manter-me na frente. Neste momento contabilizei uma coisa: A cada dois passos meus, ele dava um passo largo. Logo, seu eu acelerasse e desse 3 passos enquanto ele um, eu estaria em vantagem sempre.
Pus em prática a minha nova estratégia e mantive-me na frente por um bom tempo. Até cheguei a pensar que ele havia desistido de me vencer.
Então, olhei para frente, e numa fração de segundo, pude perceber pelo reflexo de uma vitrine, que ele havia sacado o meu plano. Seu semblante pelo reflexo, deixou-me entrever uma espécie de ódio. Pude ouvir o seu pensamento: Agora você me paga seu nanico!
Notei que a disputa iria pegar fogo e, por saber que o meu adversário tinha mais vantagens que eu, acelerei o passo ainda mais. Não foi o bastante. Ele, em pouco tempo me alcançou. Neste momento, meu anjo da guarda desceu dos céus e colocou mais um semáforo vermelho na nossa pista. Os ânimos dele haveriam de esfriar com o sinal vermelho. Eu aproveitei para tomar fôlego. Nesta hora lembrei-me de um comentário de minha mãe: filho, tu engordou um pouquinho, né? Essa lembrança perturbou a minha concentração e eu não percebi a silhueta do boneco esverdear no semáforo.
Ele largou na frente, e pior, seus ânimos ainda estavam aguçados. O meu anjo da guarda, que tentou obstruir a pista com um sinaleiro para me ajudar, olhou pra mim e disse: - Sorry man!
Meu oponente pareceu decidido a ganhar. Estava mais veloz que antes e abriu uma larga vantagem a minha frente. Nesta hora, meus ouvidos foram atacados pela voz de minha mãe: filho, tu engordou um pouquinho, né? Filho, seu gordo! Gorducho, gordinho, gordão da mamãe.
Senti-me um gordo. E, tanto é verdade que a palavra tem força, que quase abandonei a corrida. Olhei para a minha barriga e percebi que minha mãe falava a verdade. Eu, de fato, estava mais gordo. Desanimei. Olhei a frente e lá estava o meu adversário: Magro e veloz, cantarolando a sua vitória.
Mas, como os pensamentos são como macacos em uma árvore - pulam de galho em galho-, logo, postei-me a pensar coisas motivadoras. Lembrei de grandes vencedores da história da humanidade: Ayrton Senna, Pelé, Popeye, Capitão planeta, etc. Lembrei que eles nunca desistiam no meio do caminho. E, impulsionado por essas forças motivacionais, tomei fôlego e, como se uma injeção de espinafre percorresse-me as veias, disparei em velocidade.
Ultrapassei meu oponente sem nenhum esforço. Ele me olhou de canto de olho e pareceu não acreditar quando me viu passá-lo. Neste momento, da rua a minha frente, eu só conseguia enxergar uma linha, a linha da vitória. E foi esta linha que foquei.
Do meu inimigo, depois que eu lhe ultrapassei, só consegui ouvir um lamento derrotoso:
Droga, aquele nanico me venceu!
E foi assim, venci a corrida. Pelo menos até onde eu precisava chegar. Olhei para a trás e o vi entrar, também, no seu destino. Ele parecia humilhado. Li seus pensamentos: Putz, Perdi a corrida!
Cheguei em casa, troquei de roupa ( a minha estava quase ensopada de suor) e sentei afim de descansar. Foi aí que notei: Minha panturrilha e meu abdômen doíam tanto, mas tanto, que nem consegui me orgulhar de ter vencido a corrida.

No outro dia, contei a história para meu amigo de trabalho e ele me soltou essa:
- Às vezes o cara nem te viu... Só estava andando rápido mesmo e tu achaste que ele estava querendo andar mais rápido que tu.... ha há há!


Parei pra pensar e me senti idiota. Será mesmo que eu estava apostando corrida sozinho? Bom, pelo menos de uma coisa eu tenho certeza, EU GANHEI!



A foto não tem nada a ver com nada, mas, achei legal......rsrsr....

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Um Camaleão dentro de um Aquário...Ou, numa linguagem mais Denotativa, alguém que Vive uma flexível versão de Si mesmo. Não morreria por quem sou agora, mas, talvez, por quem poderia vir a ser amanhã... Dentro do Aquário, quer dizer que estou dentro da VIDA....Quer dizer que VIVO! E este Blogue, nasceu com o único propósito de Descarregar algumas das minhas Ilusões, dos pensamentos, dos contos que Pairam pela minha Mente, das coisas que já fiz...Enfinx, é uma mistura de Diário da vida com Um diário de uma imaginação...